sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Perdas com a seca vão a R$ 2,25 bi, diz Conab


Antônio Costa/Gazeta do Povo
Antônio Costa/Gazeta do Povo / Região de Ponta Grossa recebeu chuvas suficientes. Plantio tardio favorece as lavouras, que mostram vigor e tingem a paisagem de verdeRegião de Ponta Grossa recebeu chuvas suficientes. Plantio tardio favorece as lavouras, que mostram vigor e tingem a paisagem de verde
SAFRA 2011/12

De acordo com nova estimativa, o impacto da estiagem sobre as receitas dos produtores paranaenses de milho, soja e feijão será 50% maior que o previsto no início do mês

20/01/2012 | 00:18 | JOSÉ ROCHER
As perdas dos produtores de milho, soja e feijão provocadas pela seca registrada entre novembro e o início de janeiro, inicialmente estimadas em R$ 1,5 bilhão, devem chegar a R$ 2,25 bilhões no Paraná, conforme avaliação técnica divulgada ontem pela Companhia Na­­cional de Abastecimento (Co­­nab). O impacto é 50% maior que o calculado no início de ja­­neiro.
O diagnóstico da Conab se baseia em dados do Depar­tamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab). Os valores consideram os preços atuais pagos aos produtores de grãos e o volume que deixará de ser colhido.
Antônio Costa/Gazeta do Povo
Antônio Costa/Gazeta do Povo / Gustavo Ribas Netto, de Ponta Grossa, atinge boa produtividade usando sementes precoces, que tiveram quebra no Oeste+ ampliar imagem
Gustavo Ribas Netto, de Ponta Grossa, atinge boa produtividade usando sementes precoces, que tiveram quebra no Oeste
Clima ruim eleva renda de quem colheu bem
A mesma seca que causa prejuízos à agricultura em regiões quentes do Paraná tem gerado oportunidades aos produtores das regiões tradicionalmente mais frias e mais bem servidas pelas chuvas. Essas regiões correspondem em boa medida aos Campos Gerais, que abrangem partes do Centro-Sul, do Centro, do Centro-Leste e do Norte Pioneiro. O problema climático impulsionou as cotações da soja no mercado internacional e no doméstico, elevando a renda de quem vai colher bem.
Cícero Lacerda, de Guara­puava, conta que as ofertas dos compradores chegaram a subir R$ 2 por saca após as notícias de quebra de safra circularem no mercado. “Vendi o último volume de soja que tinha em estoque a R$ 46 por saca. Antes da seca tinha vendido a R$ 44, no máximo”, relata o agricultor, que já fixou o preço de 50% da produção esperada no ciclo 2011/12, alcançando entre R$ 47 e R$ 50 por saca nas vendas antecipadas.
Apesar de os preços terem recuado nos últimos dias, o setor acredita que a queda na produção vai sustentar a valorização dos grãos mesmo durante o pico da colheita brasileira, previsto para fevereiro e março.
“A tendência aqui na região é que o preço do milho caia dos atuais R$ 27 por saca para R$ 25 na en­­trada da safra. A soja, que hoje vale R$ 46, pode cair ainda mais. Ainda assim, vou fechar em uma média muito acima da que obtive no ano passado”, revela Gustavo Ribas Netto, de Ponta Grossa. Por enquanto, ele vendeu 30% da produção esperada a um preço médio de R$ 49 por saca. No ciclo anterior, a média fechou em R$ 38,80. (CR)
Produtor de trigo sofre para vender estoques
Da Redação
O agronegócio tenta vender o trigo da última safra para reforçar o caixa num ano de quebra no verão e receita limitada, mas esbarra na falta de liquidez do cereal. A Com­panhia Nacional de Abastecimento (Conab) retoma hoje os leilões suspensos em dezembro por suspeita de vazamento de informação. No entanto, o volume que terá incentivo à comercialização é considerado insuficiente pelo agronegócio.
Nos três leilões a serem realizados hoje, o Paraná poderá vender 110 mil toneladas. O problema é que metade da última safra, que teve redução no plantio e ficou em 2,4 milhões de toneladas, permanece estocada. “Esperamos vender todo o possível nesses leilões, mas dependemos de novas edições”, diz Gilson Martins, técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). A Federação da Agricultura do Paraná (Faep) reivindica que os leilões ocorram a cada duas semanas.
O governo está pagando prêmio para quem escoar 110 mil toneladas de trigo do Paraná e para 195 mil toneladas do Rio Grande do Sul. Incentivos diretos aos fornecedores de trigo estimulam a venda de outras 30 mil toneladas dos dois estados do Sul e de São Paulo. A Conab não confirma os volumes dos próximos leilões.
O governo estimula a comercialização pagando prêmio a quem garante preço mínimo aos produtores. Os preços mínimos do trigo variam de R$ 20 a R$ 29 por saca, dependendo do tipo e da qualidade, e os índices médios praticados no Paraná estão em R$ 23 por saca – 7% a menos que há um ano.
A maior queda de receita deve ser registrada entre os agricultores que cultivam soja: ao menos R$ 1,5 bilhão. A produção estadual, conforme a Conab, será de 11,6 milhões de toneladas, com redução entre 16% e 20%. Por falta de água e pela ocorrência de noites frias em pleno verão, a oleaginosa estaria rendendo 2,5 milhões de toneladas a menos que seu potencial.
No milho, a quebra climática também tende a atingir 20%, reduzindo o potencial de 7,4 milhões para 5,9 milhões de toneladas, afirma o técnico da Conab Eugênio Stefanelo. Essa diferença, de 1,5 milhão de tonelada, poderia render R$ 550 milhões.
“Nas áreas de maior concentração da cultura, as precipitações estão praticamente normais. No entanto, em toda faixa do Sudoeste e Oeste, que margeia o Rio Paraná, e também nas regiões Noroeste e Norte, que plantam 40% do milho do estado, existiram locais com 60 dias sem precipitação”, diz o analista. “As perdas variam de 20% a mais de 50%.”
A primeira das três safras de feijão que integram a temporada 2011/12 também sofreu forte impacto fenômeno La Niña. A produção poderia chegar a 430 mil toneladas, mas deve se limitar a 330 mil, aponta a Conab. A primeira projeção já considerava redução de 27% na área de cultivo, para 250,6 mil hectares. A receita do setor poderia ser R$ 200 milhões maior se o potencial de produção fosse atingido e os preços se mantivessem nos patamares atuais.
O clima da época do plantio e o atual contrastam com as condições enfrentadas pelas lavouras nos últimos meses. De setembro até o início de novembro, as precipitações foram normais, afirma o diagnóstico da Conab. No entanto, as variações bruscas de temperatura desse período, por si só, afetariam a produtividade do feijão e da soja. Do fim de novembro até a segunda semana de janeiro, faltou chuva, o que atingiu também o milho. Con­forme a análise técnica, as precipitações registradas entre 13 e 17 de janeiro eliminaram o déficit hídrico do solo em praticamente todas as regiões do estado e estão favorecendo o plantio da segunda safra de feijão e, em breve, a do milho de inverno.
O quadro tem impacto nos preços ao consumidor final. O produtor de feijão carioca, que recebia R$ 100 por saca de 60 quilos, agora consegue R$ 150. Nos supermercados, a tendência é de que o alimento bata em R$ 5 o quilo. A soja se mantém estável e o milho em alta, elevando o custo da ração e, consequentemente, os preços das carnes.
Campos Gerais e Centro-Sul aliviam impacto da quebra
Cassiano Ribeiro, enviado especial
O Centro-Sul e os Campos Gerais vão impedir que as perdas registradas no Oeste, Sudoeste, Centro-Oeste, Noroeste, Norte e Norte Pio­neiro tenham impacto tão forte na produção de grãos, apurou a Expe­­dição Safra Gazeta do Povo em via­gem pelo interior do estado. Plantadas quase um mês mais tarde do que nos polos atingidos pela seca, as lavouras de soja e milho do entorno de Guarapuava, Ponta Grossa, Pal­meira e Arapoti prometem ao me­­nos amenizar a quebra da safra paranaense.
No Oeste, boa parte dos agricultores havia concluído o plantio no início de outubro, enquanto nos Campos Gerais as plantadeiras ainda trabalhavam até o fim de novembro. Nos últimos meses, apesar de terem ocorrido semanas seguidas de sol, a situação não se compara à seca de até 50 dias enfrentada por lavouras de Toledo (Oeste). Encorpadas, as plantações dos Campos Gerais – ainda em fase de floração e frutificação – podem render tanto quanto na excepcional safra passada.
Os produtores de Guarapuava se mostram satisfeitos com o volume de chuvas desta safra. “O acumulado ficou um pouco abaixo da média, mas nada preocupante. O único problema que enfrentamos nos últimos anos foi o granizo”, afirma Carlos Eduardo Luhn, dono de 400 hectares cultivados com soja. Luhn espera colher 3,3 mil quilos de soja por hectare a partir de fevereiro, 100 quilos a menos (ou 2,9%) que um ano atrás. Apesar das chuvas suficientes, a temperatura surpreendeu, com noites mais frias que o normal e dias quentes. Esse fator pode limitar o rendimento do milho a 9 mil quilos por hectare, 480 quilos (ou 5%) a menos do que em 2010/11. “Quase todas as pontas das espigas tiveram problema de enchimento de grãos”, afirma.
O frio registrado em novembro e dezembro também deixou manchas nas lavouras de Ponta Grossa. Mas a expectativa dos agricultores, é positiva. “Acho que podemos fi­­car perto da média de 3,75 mil quilos de soja por hectare que tivemos no ano passado”, calcula o produtor Gustavo Ribas Netto.
Ele diz que o uso de sementes com ciclo curto, as mesmas usadas nas regiões atingidas pela seca, têm elevado em pelo menos 10% os rendimentos da soja nos últimos anos. “Começamos a colheita da soja precoce com produtividade média de 3,5 mil quilos por hectare. Quando chegamos nas áreas de ciclo tardio, o rendimento cai para 3 mil quilos”, diz.
No Oeste, além de permitir a antecipação do plantio do milho de inverno, a adoção das sementes de soja de ciclo curto é defendida como estratégia de redução de custos. O cultivo é abreviado em duas semanas, para 120 dias, e exige menos fungicida.

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