sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Faltou pulso da diretoria do Fla', diz Luxemburgo




No mesmo salão onde celebrou Estadual 2011, técnico diz que resultados são excelentes: ‘Fui demitido por problemas que não pertenciam ao campo’

Vanderlei Luxemburgo escolheu um dos salões de convenção do hotel que serve de concentração para o Flamengo, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, para falar sobre a sua demissão do clube. No local, se hospedou com o grupo para jogos durante um ano e quatro meses, período em que comandou o Rubro-Negro. De óculos escuros espelhados, voz rouca e cara de quem dormiu poucas horas, chegou exatamente às 10h36m. Vanderlei vestiu calça jeans e camisa amarela com a palavra Boss (chefe, em inglês), de uma famosa grife internacional. Às 11h16m, deu início à entrevista coletiva. Foram as palavras do ex-chefe rubro-negro. Ele resumiu o que viveu no Flamengo nos últimos meses.

A coletiva aconteceu no Salão Imperial do Windsor, exatamente o mesmo local onde, no ano passado, às gargalhadas, concedeu entrevista depois da conquista do Campeonato Carioca de forma invicta. Uma curiosidade: o time B do Flamengo está concentrado no mesmo hotel para o jogo diante do Olaria. Alguns funcionários do clube repetiam como um mantra: “Nunca vi uma fase assim”.

Depois de dar bom dia ao batalhão de jornalistas, a primeira pergunta direcionada a Vanderleifoi sobre uma declaração da presidente Patricia Amorim, que alegou, entre outras coisas, o ambiente conturbado para demitir o treinador. A resposta virou um longo pronunciamento de 15 minutos recheado de alfinetadas em dirigentes, Ronaldinho Gaúcho e na condução da diretoria no dia a dia do clube.

Eu já sabia que eu ia sair do Flamengo porque a notícia saiu há um mês. Falaram que quando terminassem os dois jogos (contra o Potosí), eu não seria mais o técnico e simplesmente se confirmou. O jornalista que colocou essa informação sabia disso, não colocou isso porque quis "
Luxemburgo
Na segunda resposta, mais seis minutos. Gesticulando muito, com ataques direcionados, mas sem grandes alterações de voz, Vanderlei deixava transparecer sua contrariedade com o semblante tenso. Algumas brincadeiras não serviram como alívio. Atrás da mesa, por baixo do pano, Luxa esfregava as duas mãos nas pernas repetidamente. O técnico comentou a justificativa de Patricia Amorim para dispensá-lo. Reconheceu que houve desgaste no relacionamento com o grupo, mas lamentou a postura da diretoria.

- Entendo a Patricia ter falado de desgates. Acho que faltou um pouco mais de pulso da diretoria. Senti ela sozinha e falei isso, está muito vulnerável, sem um amparo. A minha saída do Flamengo não pode ser uma coisa normal do futebol. Não é por causa disso. Futebol sem desgaste não funciona. O importante é como você trata a relação de grupo. Na minha história de futebol, tive alguns desgastes pela frente. Mas foram poucos. O desgaste existe para você se posicionar em cima de algumas situações. Todas as vezes que eu tive um dirigente que se posionou e fez valer a hierarquia, os resultados foram muito bons. Palmeiras, Corinthians, Cruzeiro. Dos meus desafetos, nenhum virou pastor de igreja. Na virada do ano, disse que seria difícil conviver com algumas coisas que ocorreram no ano passado. Falei que não conviveria com isso aqui. Eu mudei, comecei a colocar as coisas no seu lugar. Se a diretoria não mudou, não é problema meu. Se preferem jogar para baixo do tapete, não é problema meu. Venci dessa forma, com desgaste de atletas de alto nível.

Eu não tenho que almoçar com jogador de futebol, ter relação fora do futebol. E, ano passado, foram ditas algumas coisas que não são cabíveis dentro do futebol. Não quero o Ronaldinho para casar com a minha filha, quero o Ronaldinho para jogar futebol e cumprir com seus compromissos. A regalia que um atleta de alto nível tem que ter é o salário que ele ganha.

Ao meio-dia, um dos assessores deu como encerrada a coletiva. Mas ainda restava um questionamento sobre o vice-presidente de finanças, Michel Levy. Foi a senha para Vanderlei sair em defesa de Deivid, que tem R$ 6 milhões a receber do clube e revelar que no ano passado os jogadores quase fizeram uma greve por conta de direitos financeiros atrasados.

Eram 12h06m quando foi encerrada a entrevista com duração exata de 50 minutos. Vanderlei Luxemburgo bebeu uma taça de água num único gole. Na garganta seca também estava atravessada toda diretoria do Flamengo. Depois, ele cumprimentou os jornalistas que participam da cobertura do Flamengo. Luxa tentou descontrair com brincadeiras e gargalhadas.

Em seguida, desceu a escada rolante do hotel. Na camisa amarela, a palavra Boss seguia estampando a grife internacional. Mas na marca rubro-negra, Vanderlei Luxemburgo agora é apenas o ex-chefe.

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